quinta-feira, 27 de agosto de 2009

O Motoqueiro Jesus


Nasci em uma cidadezinha do litoral Paulista.
Filho de mãe solteira, ou, melhor dizendo, abandonada.
Fui fruto de uma desgraça incompleta.

Vou contar-lhes minha história que começou com um romance fajuto.
Quando um motoqueiro da capital que estava de passagem pelo litoral se encantou com a doçura e inocência de uma linda moça leviana, e a bela moça ficou encantada com o jovem viajante e suas histórias sobre um mundo de liberdade.

A moça de costumes e cultura conservadora foi iludida, e entregou sua virtude ao jovem motoqueiro.
Mas como se fosse surpreender, o rapaz que ainda vivia em um mundo de liberdade a deixou para trás, e continuou em sua rota, inconseqüentemente trazendo a desgraça da garota.
Deixando apenas rastros inconcretos, pois dele sabia-se apenas que tinha uma tatuagem de uma criatura mitológica nas costas, o cão de três cabeças Cerberus.

Primeiro a garota sofreu os julgamentos de sua consciência, depois os de sua família, que a repreendeu e praguejou.
Seu infortúnio se transformou em uma vida de impureza e a jovem se perdeu em drogas.
Mas um sucedido fato a impediu de também se entregar a prostituição.
Uma gravidez.

Inconseqüentemente a garota continuou em sua miséria e sua vida imoral, fatos que futuramente trariam complicações na gravidez.
A jovem no auge de sua calamidade, teve intenção de destruir seu sofrimento, que tem como parte a vida que surge em seu ventre.
Se envenenou, fez muitos esforços catastróficos sem sucesso, o que trazia mais complicações.
Mas na inconsciência após um dos atos a garota recebeu uma "luz" que a motivou.
Por ela relatado como intermédio divino no momento em que estava sendo socorrida.
Com ajuda e
perseverança a garota se reabilitou, e fez um parto bem sucedido.

Retomou a vida moral, e recuperou sua pureza.
Testemunhou religiosamente sobre sua experiência e deu asas ao fato da criança ser um fruto divino.
Sua triste história se tornou
adimirável à comunidade, e a criança que era fruto se tornou simbolo de esperança.
Seu nome santo, Jesus, era a lembrança de que Deus está entre nós

Por muito tempo _a infância inteira_ foi almejada a santidade da criança.
Mas em sua
adolescência veio a controvérsia.
Em meio a um mundo de cobranças o garoto se viu imposto a um
caráter, e discordou intensamente de viver uma vida ditada.
A rebeldia se tornou sua mais visível personalidade.
Sua natureza hereditária o levou a uma vida imoral.

O garoto se envolveu com drogas e prostituição.
Se aproveitava da inocência turística, aplicava golpes e se enroscava em um mundo criminoso e desrespeitoso.
Uma mesma vida
infortúnia, mas distinta da história de sua mãe.

Até que, em um de seus atos de má indole, conheceu um delinquente motoqueiro conhecido pelo apelido de Porco.
Supostamente o tal Porco conhecia uma turma de
motoqueiros da capital, dentre eles havia mencionado um grande amigo com apelido de Lobo-Mau.
Apelido justificado pela tatuagem do cão de três cabeças
Cerberus nas costas.
Isso despertou anseio de conhecer o mentor de sua vida e do sofrimento de sua mãe.
Tomado pelo ódio e o desejo de vingança, o garoto convenceu o
motoqueiro Porco a levá-lo a essa turma, da qual afirmou ter intuito de fazer parte.

Chegando a capital o garoto enfrentou alguns desencontros até conseguir conhecer tal Lobo-Mau.
O rapaz então ocultou todo seu ódio, e conseguiu conquistar a confiança e admiração do então recem encontrado Lobo-Mau, que até brincou dizendo que ele poderia ser um de seus filhos perdidos pelo mundo.
Pois suas
personalidades tinham muito em comum, o que subconscientemente fez com que a raiva do garoto aumentasse.
O que mais lhe
dispertára ódio nessa parte foi que realmente se parecia muito com o tal Lobo-Mau, e como ele, também havia mentorado sofrimento em sua mãe.

No auge de sua fúria, o garoto resolveu então armar uma cilada, e relatar na pele do motoqueiro toda a dor sentida por sua mãe.
E assim realizou, torturou
carnalmente o motoqueiro, o fez engolir toda a mágoa da vida de uma moça inocente em forma de dor.
Porém quanto mais expunha sua fúria, mais seu ódio por si mesmo crescia.
E no grau mais elevado de sua raiva, não resistia mais a própria tortura
subconsciente, e deu fim à própria vida.

Essa é a minha história, e de minha angustia, de vagar pela escuridão e pelo vazio de minha morte sem a certeza de que vinguei a desgraça de minha mãe, tornando completa a desgraça de meu pai o trazendo à morte.

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